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GOVERNO SE VOLTA PARA USINAS COM RESERVATÓRIOS
Representantes de diferentes órgãos do setor defenderam a construção de hidrelétricas com reservatórios de regularização
06-10-2016
#16º Encontro dos Associados da Apine com seus Convidados
Paranoá Energia - 29.09.2016 - Uma das principais lambanças técnicas cometidas pelo governo petista no setor elétrico, com consequências diretas no meio ambiente, começou a ser atacada de frente pelo Governo do presidente Michel Temer. Em uma estratégia aparentemente não articulada, mas coincidente, o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Eduardo Azevedo, o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Augusto Barroso, defenderam, nesta quinta-feira, 29 de setembro, em Brasília, a volta da construção de hidrelétricas com reservatórios de regularização plurianual, aproveitando a totalidade do potencial de geração representado pelo represamento das águas.
Os três participaram do evento “16º Encontro dos Associados da Apine com seus convidados”, organizado pela Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica. Trata-se de uma associação empresarial que reúne investidores interessados em grandes hidrelétricas. E o tema deste ano foi “Repensando o modelo do setor elétrico”.
Usinas dotadas de reservatórios sempre foram uma característica do sistema elétrico brasileiro. Entretanto, durante a gestão petista, principalmente quando a ex-presidente Dilma Rousseff foi ministra de Minas e Energia, o País desistiu de construir usinas com reservatórios de acumulação e optou-se por projetos hidrelétricos com lagos menores. Estranhamente, ao mesmo tempo o País deu sinal verde para a utilização de usinas térmicas em larga escala na operação do dia a dia, mesmo sabendo-se que essas usinas são muito mais poluentes do que as hidrelétricas.
O estrago já foi feito, embora reste a oportunidade para trabalhar em projetos remanescentes. As grandes usinas amazônicas desenvolvidas durante o Governo do PT se caracterizam pela existência de lagos menores. Tecnicamente, essas hidrelétricas são enormes usinas a fio d´agua, ou seja, a água passa diretamente pelas turbinas, sem formar lagos de acumulação que poderiam contribuir para a regularização do potencial hidrelétrico.
Por que acumular água nos reservatórios? é a pergunta que se faz. Tecnicamente, a razão é simples: o lago funciona como uma espécie de seguro para a operação hidrelétrica. Em um período de condições hidrológicas desfavoráveis, então é turbinada aquela água já acumulada, até que no próximo ano a hidrologia possa se recompor. Quando o sistema dispõe de hidrelétricas que não possuem mais lagos de acumulação, o seguro passa a ser efetuado pelo parque térmico, que é muito mais caro e muito mais poluente. Esta, inclusive, é uma das razões da crise atual do setor elétrico brasileiro.
Mas, para alguns especialistas, a usina com reservatório tem muitos aspectos negativos, a começar pelo grande número de ribeirinhos que às vezes são expulsos da área a ser inundada, criando-se enormes problemas sociais. E, quando se fala em potenciais amazônicos, essa questão aumenta de tamanho quando as populações a serem deslocadas são tribos indígenas que habitam a mesma região há centenas de anos. Além disso, tem o risco de se inundar áreas muito grandes de florestais naturais.
“Há a necessidade de tornar mais claro para a sociedade a importância de se construir centrais hidrelétricas, inclusive com reservatórios”, afirmou o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, reconhecendo que esse tipo de usina sofre resistências em vários segmentos da sociedade, mas que os seus benefícios também não são muitas vezes discutidos de forma adequada.
Ele lembrou que grande parte do potencial hidrelétrico remanescente do Brasil encontra-se localizado na região amazônica, mas que as usinas praticamente se tornaram do tipo fio d´água, levando paradoxalmente à necessidade de maior utilização de geração térmica.
O secretário Eduardo Azevedo fez coro com Rufino e admitiu que o Governo Federal vai, sim, trabalhar em favor de usinas com reservatórios, desde que sejam atendidas as exigências ambientais. Esse foi o mesmo argumento defendido por Luiz Barroso, da EPE.
Por Maurício Corrêa, de Brasília